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Cachopo: a Aldeia que tenta «todos os dias sair da caixa»

Dos festivais de música às feiras de produtos regionais e gastronomia, Cachopo convida centenas a subir a serra quase todos os fins de semana.

Cachopo perdeu mais de 3000 habitantes em 50 anos, não tem escola há 16, a média de idades da população é de 60 anos. Cachopo definiu-se assim durante muito tempo, mas este é um cenário que está a mudar.

Contrariando o que já não acontecia há muito tempo, a população desta freguesia, situada bem no interior serrano do concelho de Tavira, voltou a aumentar e já há crianças suficientes para reabrir a escola.

Nos últimos sensos, os dados davam conta de 471 habitantes, mas, de acordo com Rafael Dias, presidente da Junta de Freguesia de Cachopo, o último levantamento aponta para 527 pessoas, de 17 nacionalidades.

Cachopo mostra agora que «não parou no tempo» e, essencialmente, que tenta «todos os dias sair da caixa», dinamizando a sua etnografia e cultura.

Quem visita esta freguesia de 197 quilómetros quadrados – onde há três restaurante, seis cafés e um banco que funciona de 15 em 15 dias – num dia normal, não consegue imaginar que por lá haja eventos que levam centenas de pessoas a subir a Serra do Caldeirão.

«Praticamente todos os fins de semana, temos atividades culturais. Devemos ser das poucas Juntas de Freguesia a investir tanto em cultura, porque não há nenhuma terra que cresça sem olhar para quem foi e o que é», refere o presidente, acrescentando que a ideia é «diversificar o quadro cultural», incentivando a que todas as associações «façam qualquer coisa».

Quando Rafael Dias assumiu a presidência da Junta, havia 20 associações, mas só duas é que tinham regime profissional ou semiprofissional. Agora, o objetivo é que todas trabalhem em nome da freguesia, «criando rotinas para que este tipo de atividades se vão construindo quase espontaneamente», acrescenta o autarca.

O presidente da Junta com um freguês – Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

Teresa Cavaco, natural de Cachopo e presidente da Assembleia de Freguesia, é quem tem colaborado com todas as atividades culturais e afirma ao Sul Informação que, no último ano, tem havido a visita de muitas pessoas, quer estrangeiros, quer portugueses do litoral, que, de outra forma, não visitavam Cachopo.

O Festival de Música de Cachopo tem sido «um sucesso», juntando ciclos de música clássica ao jazz e à música tradicional portuguesa.

Em Cachopo, o calendário é feito com o objetivo de «proporcionar experiências para diferentes públicos em determinadas alturas», tentando ir buscar todo o tipo de turista para visitar a freguesia», refere ainda Teresa Cavaco.

Do turista cultural ao de natureza, passando pelo que por lá passa nas caminhadas ou pelo que procura a gastronomia e produtos típicos, em Cachopo há vontade de acolher todos, mesmo quando os espaços se tornam pequenos para tanta gente.

Irene Gonçalves, dona do restaurante “A Charrua”, confessa ao nosso jornal que, se há uns tempos se tinha arrependido de abrir o negócio, hoje em dia há momentos em que lhe custa ter mãos para receber tanta clientela.

«O Rafael tem feito aqui um grande trabalho de dinamização e vejo isso com muito bons olhos», diz.

Irene Gonçalves, proprietária do restaurante “A Charrua” – Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

Cachopo foi, durante muitos anos, uma freguesia perdida no tempo, mas, ao contrário do que aconteceu no litoral, a pandemia serviu quase de «agente turístico».

A procura por sítios do interior aumentou, tanto por aqueles que aqui vêm de passagem, como por quem por cá decide ficar a morar. Para os últimos, há, contudo, um problema: a escassez de alojamento.

«Nós passámos por 50 anos de degradação completa do espólio imobiliário. Neste momento, a freguesia não consegue dar resposta a quem quer regressar. Não temos habitação disponível, nem casas para alugar e começa a ser um problema que cria constrangimento à própria receção da população», refere o autarca.

Ainda assim, Rafael Dias frisa que a freguesia «precisa de uma renovação», até para que haja pessoas para cuidar dos mais velhos.

«Já fomos chamados loucos por causa disso, mas não podemos ter receio de receber pessoas que não sejam de cá. Nós estamos a falar de 190 km² de território e chegámos a um limite em que a nossa população já não tinha mão de obra para cuidar dos nossos velhotes. É preciso termos consciência disso e há medidas que têm de se tomar», diz.

«Não há nenhuma terra que queira sobreviver perdendo a sua história, mas, que necessitamos urgentemente de pessoas, necessitamos. Por isso, a primeira preocupação foi a de ir buscar população e depois preocuparmo-nos com a nossa etnografia e raízes», continua.

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

Segundo o autarca, as raízes de Cachopo «estão sempre salvaguardadas até pelo trabalho que estamos a desenvolver».

Apesar de serem muitos os «eventos de fora» como os ligados ao Cachopojazz ou à Orquestra do Algarve, Rafael Dias refere que estes têm sempre «uma ligação etnográfica lógica ao território», ao serem realizados em vários espaços (exteriores e interiores) da freguesia, como a Igreja ou a Fonte Férrea.

Questionado sobre se a população se tem mostrado recetiva a este tipo de iniciativas, Rafael Dias garante que sim.

«Há abertura, claro, o problema da população é um problema dimensional. Eles estão habituados a fazer as coisas em pequena dimensão. E, neste momento, falamos em eventos que chegam a 1500 pessoas. Para Cachopo, é complicado, mas tudo se tem feito e a população começa a acreditar que tudo é possível».

Este ano, Cachopo já organizou dezenas de eventos. O último decorreu no dia 13 de Maio e ficou marcado pelo encerramento do ciclo de música clássica.

«Neste momento, o que queremos é que todas as organizações e associações ligadas a Cachopo tenham atividades conjuntas para que seja um trabalho de todos», explica Teresa.

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

Apesar de todo o trabalho que tem vindo a desenvolver com a população desde que assumiu a presidência da Junta, Rafael Dias acredita que é possível fazer ainda mais por esta localidade, mas diz que, para isso, «é preciso que a Associação Turismo do Algarve abra os olhos».

«Nós temos locais turísticos que, estes sim, são o segredo mais bem guardado do Algarve, porque ninguém os conhece e é preciso procurar oferecer um produto diversificado e de excelência que há no interior. Um produto que pode ser consumido de manhã, uma coisa, e à tarde, outra», refere o autarca, ao mesmo tempo que enaltece os alambiques da zona, os restaurantes e até as paisagens naturais.

«Temos muita coisa para explorar e não podemos continuar a trabalhar só no sol e praia», acrescenta, admitindo que, nos últimos tempos, se tem feito um caminho no sentido de contrariar isso. Caminho que, na sua visão, «está muito aquém do que ainda pode ser feito».

Com uma programação cultural que já vai longa, Cachopo despede-se do ciclo de música clássica e abraça de novo o Cachopojazz, cujo primeiro evento está marcado para 29 de Julho, às 19h00, na Fonte Férrea.

«O objetivo é continuar este trabalho e ter cada vez mais pessoas envolvidas», remata Rafael Dias.

Artigo: / Sul Informação

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Freguesia de Cachopo

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